terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Boas Festas!


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Surrealizar (1988) - Ban

Quando em 1980 Rui Veloso lançava “Ar de Rock” a musica portuguesa dava uma volta de 180 graus. O chamado “boom do rock português” levava a ribalta bandas como os Táxi, Trabalhadores do Comércio, UHF, Grupo de Baile, GNR, Roquivários entre outros, foi uma época em que a musica portuguesa conseguiu uma evolução nunca vista e ainda hoje tudo o que se faz por cá se deve em muito a todo esse movimento que surgiu em inicio dos anos 80. Foi nesta altura que surgia no Porto os Bananas, banda de João Loureiro fortemente inspirada na sonoridade urbano-depressiva de Manchester.
Mas foi em 1988, depois de algumas alterações no nome já que passam a chamar-se simplesmente Ban e na formação da banda, já com Ana Deus a fazer companhia a João Loureiro na voz, lançam “Surrealizar”. E as mudanças não se ficaram por ai, também a sonoridade dos Ban é alterada cortando completamente com o rock “cinzento” de Manchester, os Ban assumem com “Surrealizar” que nada têm a ver com o chamado “boom do rock português” e fazem de uma pop pura, simples e assumidamente comercial o seu cartão de visita.
O que é certo é que tanta honestidade por parte dos Ban deu frutos e este trabalho foi um sucesso. Levado muito a sério pela critica da altura este trabalho foi considerado o primeiro álbum pop a sério em Portugal e os Ban o primeiro projecto pop portugues, todo o álbum está repleto de surpresas, e todo ele é envolvente. A abrir um tema que tudo diz sobre os Ban: “Num Filme Sempre Pop”, um dos sucessos de “Surrealizar”, que posteriormente viria a a dar titulo a colectânea dos melhores temas dos Ban. Mas o destaque vai obviamente para a faixa seguinte, “Irreal Social” é um tema a quem a musica portuguesa muito deve, dos melhores temas portugueses da década de 80, esta faixa expressa como nenhuma outra a sonoridade pop dos Ban com “riffs” curtos e secos de guitarra, o saxofone e as teclas como que estrategicamente a apoiar toda a envolvente musical, os jogos de voz entre João Loureiro e Ana Deus e claramente a letra urbana e pós-moderna que tantos elogios recebeu, de referir também em “Irreal Social” como não podia deixar de ser o videoclip arrojado, este tema explodiu e foi um dos maiores sucessos de radio nesse ano, lançou os Ban para a ribalta da musica portuguesa. Destaque merece também “Encontro com Mr. Hyde” com uma letra muito boa, outro sucesso na onda pop como o é todo o álbum, destaques também para “Um Espelho Riu” em que destaco a batida e “Brouhaha (Um Caso de Confusão Mental)” e “Doce Fazer nada”. Pelo meio encontramos musicas que encaixam bem no álbum fazendo dele uma obra que vale pelo todo: “Ritualizar”, “Função” e “Era Uma Vez”.
Um álbum especial, que de certo modo revolucionou a musica portuguesa apesar de não lhe ser imputado o devido valor e de ser um álbum e uma banda um pouco esquecida, cortaram com o rock português como que criando uma nova secção na musica moderna portuguesa, um novo ramo surgido da riqueza musical do já referido “boom do rock português”, este álbum é obrigatório, do melhor que se fez em Portugal na decada de 80. Depois dos Ban vieram os Diva os Três Tristes Tigres (de Ana Deus) ou os Entre Aspas, bandas cuja sonoridade muito se inspira nos Ban prova de que os Ban marcaram a cena musical portuguesa e que foram e continuam a ser uma referência
Os Ban terminaram oficialmente em 1995 depois de dois álbuns também eles muito bem sucedidos “Musica Concreta” de 1989 e “Mundo de Aventuras” de 1991 e as colectâneas “Documento 83-86” lançada em 1992 e “Num Filme Sempre Pop – O Melhor dos Ban” de 1994. De então para cá tem se ouvido falar em rumores de uma possível reunião do grupo portuense que infelizmente não têm passado disso mesmo, de rumores…
“Surrealizar” promete uma viagem envolvente ao universo pop, em que as letras e a musica se conjugam com uma qualidade rara, e é fiel demonstrador da melhor pop que Portugal alguma vez ousou fazer…


Irreal Social - Ban

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Viva La Vida or Death and All His Friends (2008) - Coldplay

Controverso… é o primeiro adjectivo que salta a memoria quando se fala no álbum desta semana: “Viva la Vida or Death and All His Friends”.
Depois de ”X&Y” de 2005 álbum que colocou os Coldpaly como uma banda de maior destaque na cena Rock mundial e que lhe deu o protagonismo que vinha em crescendo ao longo da carreira, eis que passados 3 anos de angustiante espera para os fãs e grande expectativa para a critica é lançado o álbum esta semana apresentado. A polémica deste álbum resume-se a mudança de sonoridade e a inovação levada a cabo por esta banda Britânica: por um lado os fãs mais cépticos que seguiam a banda desde o inicio e que com tanta inovação levada a cabo neste álbum não gostam dele, por outro o novo publico (em que me incluo) que este trabalho teve o condão de conquistar… Os dados estavam lançados… Saída de cena em apoteose com “X&Y”, 3 anos de longa espera, a colaboração do mestre Brian Eno, a critica a ajudar dizendo que vinha ai o melhor álbum de sempre dos Coldplay, o que é certo é que após o lançamento deste álbum em Junho deste ano, vendeu 2 milhões de copias em todo o mundo só nas primeiras semanas, e estava lançada a discussão, não há quem não tenha opinião sobre este trabalho, críticos e não críticos, entendidos ou não, quase toda a gente tem algo a dizer sobre ele e as opiniões variam… Obra de Arte ou um disco banal?
Neste trabalho os Coldplay mostram uma maior maturidade, penso que as bandas que merecem ficar para a historia da musica todas elas devem apresentar mudanças ao longo da carreira, adaptações ás novas sonoridades a questão está em saber se essas mudanças são bem conseguidas ou se não o são, os Coldplay inovaram de uma maneira consistente e segura. Com a ajuda de Brian Eno a banda britânica recorreu a sons não experimentados nos trabalhos anteriores, destaco aqui o apoio claro na world music (atenção que a colagem a este estilo está a ficar mais na moda que nunca, aguardemos o que ainda está para vir…) com recurso a ritmos africanos e latinos bem presentes em faixas como “Cemeteries of London”, “Lost!”, “Yes” ou “Strawberry Swing”. Rock sinfónico com direito a orquestra nas faixas “Life in Technicolor”, “Viva La Vida“ (a melhor faixa do álbum, um autentico hino, uma musica que vai perdurar…) e Death and All His Friends (mais introspectiva). Os Coldplay foram inteligentes ao ponto de não deixar totalmente de parte a sonoridade que os havia levado ao topo, isso está patente essencialmente nas faixas “42”, “Viollet Hill” e “Lovers in Japan/Reign of Love”, bem ao estilo dos trabalhos anteriores aqueles que seguiam a banda de mais perto é que se calhar não perceberam isso…
A capa também não poderia deixar de ser referida inspirada no quadro “Liberty Leading the People” do pintor francês Eugene Declaroix, na minha opinião muito bem conseguida e com uma clara mensagem politica intrinsecamente subjacente.
Conceptual e muitas vezes introspectivo, corta de certo modo com o passado… A discussão continua, e vai continuar e isso é mais a prova de que estamos perante um álbum intemporal a provar pelos rios de tinta que já fez correr e pelas paginas de blogs que já encheu, só por isso merece ficar para a história. É inevitável dizer que foi o álbum que mais downloads teve da historia da musica chegou a numero 1 na Grã-Bertanha e nos Estados Unidos e numa serie de outros países incluindo Portugal, o que é raro um álbum conseguir esse feito nos dias de hoje… Para não falar nas 7 nomeações para os Grammys… Se foi a polémica ou a qualidade a conseguir estes feitos… a discussão continua em aberto!
Não me cabe a mim alimentar mais a controvérsia… este álbum conquistou novos públicos que não ligavam nenhuma aos Coldplay e eu fui um desses casos, numa altura em que Chris Martin já fala no fim da banda (numa tentativa de catapultar ainda mais os Coldplay para o estatuto de banda de culto) não me cabe a mim dizer se “Viva la Vida or Death and All His Friends” foi ou não o melhor álbum de 2008 ou dos últimos 8 anos, uma coisa é certa, á muito tempo que não tinha o prazer de ouvir Rock com tanta qualidade...



Viva La Vida - Coldplay

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Houses of the Holy (1973) - Led Zeppelin

Por altura de 1973 os Led Zeppelin já haviam passado a fase do impacto, que pos meio mundo de boca aberta. Os fundadores do heavy metal já haviam realizado 4 álbuns, todos eles bem sucedidos, esgotavam concertos e conquistavam plateias tanto deste lado como do outro lado do Atlântico, eram a data a banda rock referência.
“Houses of the Holy” o 5º álbum de estudio dos Led Zeppelin vem na sequencia desse estatuto, a banda encontrava-se no auge da sua carreira e mostraneste trabalho uma confiança e maturidade que não haviam apresentado em nenhum dos trabalhos anteriores. Os Led Zeppelin sabiam o que queriam e estavam mais cientes que nunca do seu talento, é também um álbum de mudança e arrojado, os Led Zeppelin inovam neste trabalho experimentando novas sonoridades e estilos, deixam um pouco de lado os riffs fazem mais uso de teclados, mostram-se mais soltos e libertos, mas arrebatadores como sempre…
A iniciar, a faixa “The Song Remains The Same” um clássico, puro rock ‘n roll a Led Zeppelin é uma faixa ainda na onda do que a banda vinha a produzir em trabalhos anteriores, uma profunda mudança nota-se na faixa seguinte “The Rain Song” uma das minhas preferidas, uma balada, melancolica uma letra triste, acompanhada de guitarra acustica e onde a “mistica” desta banda se encontra bem patente. Segue-se “Over the Hills and Far Away” fantástica, mais um clássico da banda, com um inicio voltado para sonoridades Country mas que evolui para sonoridades mais pesadas bem ao estilo dos Led Zeppelin. “The Crunge” e “Dancing Days” mais duas faixas uma de um rock ‘n’ roll electrizante ao estilo Led Zeppelin. “Dyer Maker” é a faixa surpresa deste álbum, nesta faixa (mais uma musica de referência da banda) os Led Zeppelin surpreendem toda a gente recorrendo nada mais nada menos que… ao reggae. Uma faixa que fica no ouvido e que demonstra o lado mais versatil destes britânicos que começavam a querer provar que sabiam fazer boa musica independentemente do estilo. Em “No Quarter” está bem patente a vertente oculta e mistica dos Led Zeppelin, desde o inicio que os Led Zeppelin recorriam ao ocultismo criando a sua volta uma mistica muito própria, recurso a mitologia Celta, a literatura fantástica de Tolkein e muitas vezes acusados de ligações Satanicas, nesta faixa os Led Zeppelin demosntram uma vez mais esse seu lado mais obscuro… A terminar este magnifico trabalho “The Ocean” dedicada aos fans da banda, magnifica performance de Jimmy Page que prova ser um dos melhores guitarristas do mundo e obviamente de Robert Plant aliás como em todo o álbum, em que demonstra ser um dos maiores interpretes do rock não só a nivel vocal mas tambem na forma como dá forma as letras e ao espirito da banda…
“Houses of The Holy” é um trabalho que marcou profundamentea musica rock , prova disso são as inumeras versões feitas a faixas deste trabalho como “Dyer Maker” (Sheryl Crow), “No Quarter” (Tool). Quanto a vendas vendeu até hoje mais de 20 milhões de copias em todo o mundo e chegou a numero 1 tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido (como era habito para os Led Zeppelin). A capa é mais uma daquelas capas que ficou para a historia do rock, transmitindo uma vez mais o misticismo e ocultismo como forma de estar na musica da banda, sem utilizar indicativos na capa, só a fotografia, que dá a cada ouvinte a possibilidade de tentar desvendar o significado do cenário apocaliptico e sobrenatural daquelas crianças a subir a Calçada dos Gigantes. A titulo de curiosidade uma dessas crianças é hoje o conhecido apresentador de TV Britânico Stefan Gates…
De uma das melhores bandas de sempre, um dos melhores álbuns de sempre, mais arrojado que os anteriores, mais maduro, boa musica de excelentes musicos sem esquecer toda a carga mistica envolvente dos Led Zeppelin, prepetuada neste trabalho e que faz com que ainda hoje sejam das bandas alvo de mais boatos em todo o mundo e também inevitavelmente das mais ouvidas…

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

So (1986) - Peter Gabriel

Quando em 1975 Peter Gabriel abandonava os Genesis, estava lançada a espectativa em torno da sua futura carreira a solo, e a fasquia era alta, Peter Gabriel fora o "frontman" de uma banda que na altura estava no auge, uma banda inovadora e que conseguia a cada trabalho produzido inevitaveis aclamações da critica, os Genesis estavam no centro do panorama musical de então. No inicio da carreira há que dizer que Peter Gabriel ficou para a critica uns furos abaixo do esperado, com quatro álbuns iniciais em que Peter Gabriel deu o seu próprio nome a todos os trabalhos pois segundo ele, consiederava que não se tratavam de trabalhos distintos mas apenas e só de um único álbum, conseguiu ainda assim alguns pontos de destaque com musicas como “Solsbury Hill” ou “Biko”, no entanto é de destacar o claro afastamento de Gabriel em relação ao progressivo do tempo dos Genesis e a tentativa colagem a sons mais experimentais nomeadamente á world music.
O sucesso chegou numa altura em que nada o fazia prever e em que se esperava mais um álbum na linha dos anteriores, de qualidade mas sem grande impacto comercial. Lançado em 1986 o álbum “So” foi uma autêntica surpresa para o meio musical, e por varias razões…
Peter Gabriel com este trabalho muda drasticamente a sua sonoridade, apercebe-se do que se estava a passar no meio musical e adopta uma sonoridade puramente pop (mais pop que “So” é impossivel…), usou e abusou de samples e de sintetizadores, quanto ás letras, essas manteem a inteligência caracteristica dos trabalhos de Gabriel. Co-Produzido por Daniel Lanois, “So” é constituido por 9 faixas e o destaque vai claramente para musicas como “Sledgehammer” conhecida por todos nós, uma das musicas mais representativas da decada de 80, Gabriel a cantar “I wanna be sledgehammer!” é ainda hoje recordado por todos aqueles que gostam dos anos 80 e de musica, quanto mais não fosse também pelo excelente videoclip, considerado um dos melhores videoclips de sempre em que Gabriel utiliza tecnologia inovadora até então e revolucionou completamente a ideia e o conceito de videoclip, e que ganhou o MTV Music Video Award de 1987 e é ainda hoje e passados estes anos todos o videoclip que mais vezes passou na MTV. “In Your Eyes” outra musica de destaque neste álbum, com uma cagra lirica profunda e uma agradável mistura de pop com world music. Este trabalho teve a participação especial de Kate Bush na também conhecidissima “Don´t Give Up”, um dueto numa musica intimista em que Gabriel nos fala de desespero mas também de esperança e demonstra a suas muitas qualidades de letrista que deram nas vistas desde o tempo dos Genesis. “Big Time” outro videoclip excelente e inovador na linha de “Sledgehammer”. As restantes musicas são de uma pop envolvente e energica com uma carga lirica inteligente como em “That Voice Again”, “We Do What We’re Told (Milgrams 37)” e “This is the Picture (Excellent Birds)”. De homenagem em “Mercy Street” em que Gabriel homenageia a poetisa Anne Sexton. De mensagem politica, que Gabriel já havia demonstrado com musicas como “Biko” no inicio dos anos 80 uma homenagem ao activista negro sul-africano contra o apartheid Stephen Biko, desta vez na faixa de abertura de “So”, “Red Rain” Gabriel demonstra a sua oposição face a pena de morte, uma clara colagem á Amnistia Internacional e á sua mensagem.
De referir também a “guerra” de "frontmans" dos Genesis que apesar de nunca directamente abordada, era inevitavel fazer comparações entre o trabalho a solo Phill Collins (que já mantinha uma bem sucedida carreira a solo) e de Peter Gabriel que com este trabalho Gabriel fica claramente por cima.
Um álbum diferente do que Gabriel vinha fazendo desde que deixara os Genesis, sonoridades pop, um trabalho inteligente do melhor que se fez na decada de 80, de um homem que sempre soube o que queria na musica e que sempre soube colocar o selo da qualidade nos seus trabalhos, nesse ano “So” só perdeu o Grammy para… “Graceland”.
"So", inteligência em formato pop.

Sledgehammer - Peter Gabriel